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Curso de Especialização em Psicologia Aplicada à Educação



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Artigos de Ex-alunos

ASPECTOS DA PENITÊNCIA DOS AVES DE JESUS E SUAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA RELIGIÃO

(O artigo completo foi publicado no Tendências: Caderno de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri - URCA, Número 2)

Autores:
PREIRA, Josefa Luiza da Silva - URCA e OLIVEIRA, Gislene F. UFC/URCA

Resumo: Os movimentos sócio-religiosos, no Nordeste, em toda sua forma histórica e até nossos dias, são em grande número de movimentos de reivindicações para explorar dádivas aos céus e a redimir os pecadas que seriam as causas de suas desgraças. Os rituais de penitência apareceram nos primeiros séculos da era cristã, para domar os desejos da carne e as fantasias do espírito. No Cariri as Ordens de penitentes surgiram por volta de 1860, época de fome e peste. Padre Ibiapina foi quem mais contribuiu para ascensão religiosa popular no vale do Cariri, em meados do século XIX. A grande incidência de beatos se deu em Juazeiro, de corrente da mítica criada em torno do Padre Cícero Romão Batista e de seus milagres. O presente trabalho, busca relatar a história sócio-econômica e religiosa de um grupo de penitentes bastante singular na região do Cariri cearense, os Aves de Jesus. Esse grupo escolheu a cidade de Juazeiro do Norte (CE), segundo eles a "terra prometida", para fixar sua morada e através do Padre Cícero, organizarem seu modo de vida. Popularmente são conhecidos por Aves de Jesus. Trata-se de um grupo bastante criticado por conta de suas práticas religiosas não convencionais. É comum a visão da pobreza da mendicância no Sertão, como parte de uma "cultura" religiosa. Deste modo a presente pesquisa tem como objetivo principal conhecer aspectos sociais da penitência dos aves de jesus e suas representações sociais da religião no processo saúde-doença, bem as suas crenças e valores. O estudo foi realizado nos moldes de uma pesquisa etnográfica, no município do Juazeiro do Norte-CE. Utilizou-se como suporte teórico a Teoria das Representações Sociais (TRS), uma vez que a mesma é considerada como uma forma de saber prático, elaborado no âmbito dos fenômenos comunicacionais e que se reflete sobre as interações e mudanças sociais. Deste modo, as representações sociais sobre a temática permitiram a identificação do modo de pensar e de agir desse grupo de pertença com relação à construção e a subjetividade da sua realidade. Método: A amostra foi formada por seis líderes religiosos do grupo, todos adultos. Os dados foram obtidos a partir de entrevistas semi-dirigidas e histórias de vida. Baseando-se nesse contexto teórico-metodológico, utilizou-se a análise de conteúdo, tomando-se por base os objetivos propostos nesse estudo, subsidiados na teoria das Representações Sociais. Os resultados demonstrarm que as Representações Sociais (RS) do papel da religião no processo saúde-doença parecem fortalecer as convicções espirituis do grupos de que - "Deus dá a cura..." e que a cura é um milagre a ser conseguido - "peço graças a meu Padim para a cura..." e ainda que as orações são necessárias para manter-se saudáveis - "...rezar nas horas certas...'; "Rezo peço saúde...". Suas formas de tratamento das doenças transmitem de forma implícita, Representações positivas, inseridas à forma de metáforas, através de suas atitudes naturais (.. "através das plantas tudo podemos fazer...'; "usamos remédio natural...'; "procuro ter cuidado com a alimentação...'; Tomo chá..." ), bem como nas suas atitudes espirituais ("Deus dá a cura...'; "quem cura é nosso Senhor Jesus...'; "a reza nos ajuda a superar"...; "Rezo peço saúde..."). As concepções de Cura refletem valores como solidariedade humana, bondade, justiça, empatia, fidelidade, e gratidão à divindade, que são traços culturais encontrados em seu modus vivendi ("livrar-se de roubar,matar e levantar falso testemunho...'; cura... é o arrependimento...';"... é a saúde da alma"..). Também neste sentido, esses valores implicam atitudes e disposições psicológicas como ser generoso, benevolente, amoroso. O Ser Divino parece relacionado com alguém que evolui através de sofrimento. Vivenciar o estado de pobreza e de mendicância parece promover no grupo uma identificação com o sofrimento, de maneira semelhante ao que passou Cristo. Compartilhar do sofrimento conduziria a uma aproximação cada vez maior com a divindade, culminando com um sentimento de "aceitação de sua condição", que significaria a própria "salvação" ("...o corpo é para sofrer e padecer como Jesus..'; "...o sofrimento é alegria para alma...'; "...devemos aceitar e não se lamentar...." pedir graças a Deus e meu Padim para nos ajudar a suportar as provações..'; "...amenizar o sofrimento para uma vida eterna...'; "... a cura é a própria salvação..."). Conclusão: O sofrimento a que se submetem os Aves de Jesus, parecem ser parte de um processo de "purificação", isso explicaria o desejo de padecimento dos fiéis, efetuado através do sacrifício das peregrinações diárias, da mendicância, e do jejum práticas bastante comuns entre esses Penitentes. As suas RS lhes oferecem uma rede de significados, que os ajudam a dar sentido aos acontecimentos, ações e comportamentos do seu grupo social. Um outro aspecto observado no grupo é a valorização da caridade, um componente importante na vida social dos Ave de Jesus. Sua maneira e hábitos solidários de se comportarem são uma crítica aos atuais costumes de sociabilidade adotados pela sociedade. Eles acreditam que, através da generosidade e da fraternidade, o egoísmo, a violência e luxo podem ser suprimidos. A afetividade corporificada na caridade possibilitaria uma vida pautada nos preceitos de Deus.


(Resumo de Monografia do Curso de Especialização em Psicologia Aplicada "a Educação - URCA)